Resumo
O envelhecimento demográfico é um fenómeno social que em poucas décadas se tornou global, sendo Portugal um dos países europeus que já se encontra em situação considerada preocupante, visto que tem vindo a apresentar um aumento contínuo e bastante acentuado de população idosa. Contudo, envelhecer não é sinónimo de velhice, nem a solidão é sentida exclusivamente por pessoas mais velhas, podendo esta ser experienciada em qualquer das fases do desenvolvimento humano, atentando, porém, aos danos biopsicossociais variados e severos que podem advir de uma experiência de solidão intensa e/ou prolongada. Os objetivos traçados para este artigo vão no sentido de clarificar a verdadeira relação entre envelhecimento e solidão, percecionar a realidade portuguesa em matéria de solidão na velhice e apreender o potencial da intervenção social nesta problemática, tendo para tal, sido utilizada a metodologia qualitativa com recurso a pesquisa bibliográfica e documental. O estudo revelou, que em Portugal, existe maior incidência e intensidade da solidão em idosos com idade acima dos 80 anos, sujeitando-os a efeitos mais gravosos, em virtude da sobreposição com outras vulnerabilidades próprias da velhice. De elevada relevância, são as evidências que apontam para a existência de uma relação de duplo sentido entre solidão e depressão, justificando plenamente a combinação de esforços das várias Ciências Sociais e Humanas. Analisados dois projetos intervenção social direcionados à população mais idosa de Coimbra, foi possível atestar a sua valência no que concerne a promover uma velhice mais digna e saudável, e não tão solitária.
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