Resumo
Investigações internacionais sugerem que um maior envolvimento na religiosidade está positivamente associado a melhor saúde física e mental e a uma maior sensação de bem-estar ao longo da vida e negativamente associada ao medo e evitação da morte e menor risco de depressão. A religiosidade refere-se a uma caraterística psicossocial incluindo um conjunto de crenças, rituais e práticas religiosas na procura de uma conexão com o transcendente. A presente revisão de literatura tem como objetivo compreender a relação entre a vivência da religiosidade e o bem-estar ao longo do envelhecimento de adultos portugueses de meia-idade e mais velhos. Recorreu-se às bases de dados B-On, SCOPUS, RCAAP e Web of Science. Foram analisadas publicações entre 2014 e 2024 e as palavras-chave foram, em português e inglês, “meia-idade/idoso/envelhecimento; bem-estar; religiosidade/espiritualidade e Portugal”. Utilizaram-se artigos e dissertações completos, de acesso livre, com amostra portuguesa, excluindo-se as que não se debruçavam sobre religiosidade. Entre as 123 publicações iniciais passaram à fase de análise nove, todas de investigação empírica, das quais um artigo, uma tese de doutoramento e sete dissertações de mestrado. Os resultados apontam a religiosidade enquanto estratégia de coping que permite enfrentar com maior resiliência as adversidades do processo de envelhecimento proporcionando sentimentos de maior satisfação com a vida, segurança e socialização. Verificam-se relações positivas entre religiosidade e bem-estar. Um estudo sugere também que a relação entre religiosidade e bem-estar psicológico pode ser negativa. Estes dados trazem para primeiro plano a complexidade da relação entre religiosidade e bem-estar que necessita de mais investigação.
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